Os Sertões, Euclides da Cunha

13/08/2012 13:54

 

 

Os Sertões – Euclides da Cunha

 

            A obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, tem como tema central a Guerra de Canudos. O autor analisa as contradições entre o litoral e o interior e apresenta as razões reais e aparentes desta guerra. Suas razões aparentes foram o messianismo e o fanatismo religioso dos sertanejos. Suas razões reais foram as mazelas do latifúndio, a servidão, o isolamento cultural, a dureza do meio, o abandono social, a subnutrição, o coronelismo e a ignorância das autoridades. É a primeira obra a denunciar a miséria e o subdesenvolvimento.

 

            O livro é dividido em três partes:

1.      A Terra – descreve o cenário em que se desenrolará a ação;

2.      O Homem – completando a descrição do cenário com a narrativa das origens de Canudos, estuda a gênese do jagunço e, principalmente, de seu líder carismático, Antônio Conselheiro;

3.      A Luta – completa o elenco dos personagens esboçado na segunda parte, finalizando com a guerra propriamente dita.

 

É importante ressaltar que o estudo sociológico feito por Euclides da Cunha em sua obra Os Sertões traçou a imagem do sertanejo como um homem forte, apesar da fisionomia fraca. Só um homem forte consegue resistir às adversidades do sertão. O sertanejo é caracterizado por Euclides da Cunha como um “Hércules-Quasímodo”, referências a dois importantes personagens (Hércules – semideus latino, encarnação de força e valentia; e Quasímodo – o famoso “Corcunda de Notre-Dame, pessoa disforme que cuidava do sino da Catedral de Notre-Dame, no romance Nossa Senhora de Paris, de Victor Hugo), mostrando a oposição entre a força física e a fragilidade da imagem.

 

Embora os sertanejos fossem homens fortes, foi impossível resistir às medidas tomadas pelos seus oponentes: as saídas de Canudos foram cortadas, o abastecimento de água interrompido, suas casas estavam destruídas. Ao final da obra, quando o autor retrata o fim da luta, ele mostra que os soldados reconheciam a fragilidade  dos sertanejos e até envergonhavam-se da vitória sobre adversários tão inferiores. O próprio Euclides da Cunha afirma que foi um “crime de uma nacionalidade inteira”, mas, ainda assim, os sertanejos morreram heroicamente, pois nunca se entregaram e resistiram até o final.

 

     Fechemos este livro.

     Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.

     Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos...

(CUNHA, Euclides. Os Sertões: campanha de Canudos. Rio de. Janeiro: LFA, 1942.)