O Impressionismo

02/02/2015 21:49

O Impressionismo e a Estética da Luz Cênica

 

Enquanto o Simbolismo tendia para a subjetividade, a intuição, o Realismo se preocupa com a realidade, a objetividade. Da junção destas técnicas surgiu uma nova estética, responsável direta da transição para o Modernismo. É o Impressionismo que manifesta as impressões que a realidade lhes causa.

Em 1874 preparava-se, no estúdio do fotógrafo Nadar, em Paris, uma exposição de pintores jovens, insatisfeitos com o clima restrito e acadêmico da pintura oficial. Eram artistas que procuravam seus próprios caminhos Edmond Renoir, irmão de um deles, estava encarregado de preparar o catálogo da exposição e, por causa da monotonia dos títulos dos quadros, apresentou uma tela de Monet com o nome "Impressão: Nascer do Sol". No dia seguinte, um crítico do "Jornal Charivari" falava ironicamente do acontecimento, tachando-o de "exposição dos impressionistas". Nascia assim, uma denominação que se tornaria famosa no mundo todo: O Impressionismo.

A vida econômica, na época, alcança o estágio do capitalismo perfeitamente organizado e racionalizado. A tentativa declarada dos impressionistas de criar uma expressão totalmente inovadora, em relação a tudo que os precedeu, não deixa de ser o reflexo da mentalidade econômica predominante. Imperava o desejo, muitas vezes sem sentido, de substituir tudo, até objetos de uso diário por coisas novas. Somente dessa maneira, o público consumidor poderia absorver a grande produção de objetos de toda espécie e função. Gosto febril pela novidade origina um dinamismo sem precedente na atitude adotada frente à vida. 
O homem moderno concebe toda a sua existência como luta e competição; passa a ter plena consciência do caráter mutável das coisas, percebendo que todo fenômeno é passageiro e único. Os impressionistas, na tentativa de captar exatamente esse aspecto de transitoriedade da vida e do mundo, emprestam à realidade o caráter de inacabado. A imagem objetiva que se pode ter, ou seja, o conhecimento adquirido sobre as coisas, é substituída pela reprodução do ato subjetivo da percepção. Em outras palavras, a pintura representa aquilo que se vê e não o que se conhece.

A realidade a que os impressionistas se referem tem características realistas, indo em direção à objetividade, porém a impressão que os escritores têm dessa realidade é subjetiva, sendo muitas vezes guiados pela intuição, características do Simbolismo. Isto fez com que o Impressionismo tivesse caráter conflitante e ambíguo.

Na literatura, o Impressionismo foi caracterizado pelas construções impessoais, hipálages e transposição de um atributo de agente para ação. Teve como mais alto precursor, no campo da literatura portuguesa, Eça de Queiroz. No Brasil, podem ser notadas suas características na obra de autores como: Raul Pompéia (Naturalismo); Euclides da Cunha e Graça Aranha (Pré-Modernismo); Guimarães Rosa (Modernismo).

Na pintura, temos como as figuras mais importantes Monet, Renoir, Manet, Degas, Sisley e Pissaro. Abandonando temas históricos, mitológicos e a composição física da pintura Clássica, o Impressionismo se difere na abordagem estética: os impressionistas parecem apreender o instante em que a ação está acontecendo, criando novas maneiras de captar a luz e as cores. Para os pintores impressionistas, não era fundamental representar o objeto com detalhes e minúcias, mas sim reter as impressões imediatas que o objeto causasse na sua alma. Pissaro dizia: "Não proceda de acordo com as regras e os princípios, mas pinte o que você observa,... pinte generosamente e sem hesitação, porque o melhor é não perder a primeira impressão.".

O movimento caracterizou-se por ser um estilo fundamentalmente sensorial, no qual a natureza não era vista de forma objetiva e sim interpretada. O que valia era a verdade do artista. Era como uma resposta rápida às coisas vistas, ao passo que a impressão era mais valorizada do que o motivo em si mesmo.

O Impressionismo não foi propriamente uma escola mas sim uma atitude na expressão. Foi um movimento artístico o qual tentou utilizar a pesquisa científica contemporânea realizada acerca da física da cor, para conseguir uma representação mais exata da cor e do tom. As pesquisas de Newton, sobre o espectro solar, e Göethe, sobre o tratado da cor, são muito importantes para esse novo estilo de arte. Há um princípio físico segundo o qual você nunca vê os objetos em sua volta; o que você vê realmente é a luz refletida neles. O objetivo do Impressionismo era captar o instante, a luminosidade de um determinado momento, em determinadas condições. Acreditavam captar uma particular e fugaz impressão da cor e luz, em vez de fazerem a sua síntese dentro de um estúdio. Na verdade, os pintores impressionistas tinham ojeriza ao estúdio, porque no estúdio a luz é artificial e não sofre variações, a não ser que essas variações sejam provocadas pelo próprio artista.

A atração do Impressionismo e suas limitações se confundem. Trata-se de uma visão do mundo simples como o vemos, não como o pensamos ou sentimos. Contornos nítidos, detalhes preciosos, acabamento elaborado, tudo isso devia ser evitado por não caber em uma imagem fugidia, embora realisticamente vista. O desenho exato "destrói todas as sensações". A luz impregna tudo, até mesmo as sombras; a idéia impressionista da sombra é a de simplesmente, incluindo as cores primárias, compor uma tonalidade complementar às que estão ao redor. Utiliza-se muito o branco da superfície da tela como se fosse em uma aquarela, para se obter pequenos pontos de cor, que combinados para sugerem formas.

Em essência, o Impressionismo é uma das tentativas mais sérias de explorar o mundo visível através da arte. O artista que, inteiramente livre de conceitos geométricos, irá obedecer apenas à sua percepção sensorial no momento de reproduzir o que viu.

Mediante tamanha oposição aos princípios tradicionais da arte pictórica, o movimento foi visto sob rejeição e ironias, causando escândalo na sociedade da época. Essa corrente artística foi fortemente combatida pela crítica da época que os considerava falsos artistas, ignorantes das regras tradicionais da pintura e dos princípios da verdadeira beleza. Hoje, o Impressionismo é reconhecido como a mais rica, bela, completa e inovadora experiência da arte figurativa do séc. XIX.

Devido à imensa importância da luz no Impressionismo, ao tentarmos passar as suas características para uma iluminação cênica não podemos deixar de considerar certos aspectos tais como:

- Banho de cores e suas misturas: Com a projeção de várias cores no palco, o espectador tem a impressão de novas cores e tonalidades.

- Abandono de contornos nítidos: A integração das cores sem ter um limiar faz com que a cena seja vista a partir da mistura e da percepção que o público tenha da mesma naquele exato momento de maneira que não existam formas pré-definidas.

- Imagens fugidias: Pode-se obter esse efeito projetando um vídeo em movimento no ciclorama, fazendo com que o artista e os objetos de cena percam sua forma definida.

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

CAMARGO, Roberto Gill de. Função estética da luz. Sorocaba: TCM Comunicação, 2000.

 

FRANCASTEL, Pierre. O Impressionismo.São Paulo: Martins Fontes, 1988.

 

PEREIRA, Aldo. Os impressionistas - Monet. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1991.

 

PEREIRA, Aldo. Os impressionistas - Renoir. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1991.

 

REWALD, John. História do Impressionismo. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

 

FONTE: https://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ad631/impressionismo.htm