Figuras de Linguagem
FIGURAS DE LINGUAGEM
Figuras sonoras
Aliteração
Repetição de sons consonantais (consoantes).
Ex: "(...) Vozes veladas, veludosas vozes, / Volúpias dos violões, vozes veladas / Vagam nos velhos vórtices velozes / Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas." (Cruz e Souza)
Assonância
Repetição dos mesmos sons vocálicos.
Ex: (a,o) - "Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral." (Caetano Veloso)
Paranomásia
É o emprego de palavras parônimas (sons parecidos).
Ex: "Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias" (Padre Antonio Vieira)
Onomatopéia
Criação de uma palavra para imitar um som
Ex: "Havia uma velhinha / Que andava aborrecida / Pois dava a sua vida / Para falar com alguém. / E estava sempre em casa / A boa velhinha, / Resmungando sozinha: / Nhem-nhem-nhem-nhem-nhem..." (Cecília Meireles)
Figuras de estilo
Elipse
Omissão de um termo ou expressão facilmente subentendida.
Ex: "Veio sem pinturas, um vestido leve, sandália coloridas." (Rubem Braga) – omissão do verbo usar.
Zeugma
Omissão (elipse) de um termo que já apareceu antes. Se for verbo, pode necessitar adaptações de número e pessoa verbais. Utilizada, sobretudo, nas orações comparativas.
Ex: "O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano." (Chico Buarque) - omissão do verbo ser no pretérito imperfeito [era].
Hipérbato
Alteração ou inversão da ordem direta dos termos na oração, ou das orações no período. São determinadas por ênfase e podem até gerar anacolutos.
Ex: “Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.” (Carlos Drummond de Andrade) – na ordem direta: [As belas passeiam na Avenida à tarde.]
Anástrofe
Anteposição, em expressões nominais, do termo regido de preposição ao termo regente.
Ex: “Tão leve estou que foi já nem sombra tenho.” (Mário Quintana) – na ordem direta: [Estou tão leve que foi já nem sombra tenho.]
Pleonasmo
Repetição de um termo já expresso, com objetivo de enfatizar a idéia.
Ex: “Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa)
Obs.: O pleonasmo vicioso ou grosseiro decorre da ignorância, perdendo o caráter enfático (hemorragia de sangue, descer para baixo).
Assíndeto
Ausência de conectivos de ligação, assim atribui maior rapidez ao texto.
Ex: “Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”. (Gregório de Matos)
Polissíndeto
Repetição de conectivos na ligação entre elementos da frase ou do período.
Ex: "E sob as ondas ritmadas / e sob as nuvens e os ventos / e sob as pontes e sob o sarcasmo / e sob a gosma e o vômito" (Carlos Drummond de Andrade)
Anacoluto
Termo solto na frase, quebrando a estruturação lógica. Normalmente, inicia-se uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.
Ex: “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas” (Alcântara Machado)
Anáfora
Repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
Ex: "Olha a voz que me resta / Olha a veia que salta / Olha a gota que falta / Pro desfecho que falta / Por favor." (Chico Buarque)
Silepse
É a concordância com a idéia, e não com a palavra escrita. Existem três tipos:
Ex: “Esta gente está furiosa e com medo; por conseqüência, capazes de tudo.” (Almeida Garret)
Figuras de Sintaxe
Comparação
É a comparação entre dois ou mais termos.
Ex.: “... acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia.” (Graciliano Ramos)
Metáfora
Emprego de palavras fora do seu sentido normal, por analogia. É um tipo de comparação implícita, sem termo comparativo.
Ex.: "Veja bem, nosso caso / É uma porta entreaberta." (Gonzaguinha)
Catacrese
Uso impróprio de uma palavra ou expressão, por esquecimento ou na ausência de termo específico.
Ex.: “De que serve o pé da mesa se não anda? / E a boca da calça se não fala nunca?” (José Paulo Paes)
Metonímia
Substituição de um nome por outro, em virtude de haver entre eles associação de significado.
Ex:
(I) O continente pelo conteúdo e vice-versa: Tomei um cálice de licor. [o licor que estava no cálice]
(II) A causa pelo efeito e vice-versa: O operário estava erguendo uma casa com suor e com cimento. [Com trabalho]
(III) O lugar de origem ou de produção pelo produto: Comprei uma garrafa de porto. [vinho da cidade do Porto]
(IV) O autor pela obra: Ela aprecia Machado de Assis. [a obra de Machado de Assis]
(V) O abstrato pelo concreto e vice-versa: Ele não tem coração. [sentimento, sensibilidade]
(VI) O símbolo pela coisa simbolizada: A coroa foi disputada pelos revolucionários. [o poder]
(VII) A matéria pelo produto e vice-versa: Joguei duas pratas no chapéu do mendigo. [moedas de prata]
(VIII) A coisa pelo lugar: Vou à Prefeitura. [ao edifício da Prefeitura]
(IX) O instrumento pela pessoa que o utiliza:Ele é um bom garfo. [guloso]
Antonomásia ou Perífrase
Ocorre perífrase quando se cria um torneio de palavras para expressar um único objeto, acidente geográfico, indivíduo ou situação que não se quer nomear.
Ex.: “Cidade Maravilhosa / cheia de encantos mil” (André Filho) – Cidade Maravilhosa é perífrase de Rio de Janeiro.
Sinestesia
Interpenetração sensorial, fundindo-se dois sentidos ou mais (olfato, visão, audição, gustação e tato).
Ex.: "Mais claro e fino do que as finas pratas / O som da tua voz deliciava..." (Cruz e Souza)
Figuras de pensamento
Antítese
Aproximação de termos ou frases que se opõem pelo sentido.
Ex.: "Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios" (Vinicius de Moraes)
Paradoxo
Idéias contraditórias num só pensamento.
Ex.: "[Amor] É dor que desatina sem doer" (Camões)
Eufemismo
Consiste em "suavizar" alguma idéia desagradável.
Ex.: “E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir.” (Chico Buarque)
Hipérbole
Exagero de uma idéia com finalidade expressiva
Ex.: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac)
Ironia
Utilização de termo com sentido oposto ao original, obtendo-se, assim, valor irônico.
Ex.: “Moça linda, bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta: um amor.” (Mário de Andrade)
Gradação
Apresentação de idéias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax).
Ex.: “O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se.” (Padre Vieira)
Prosopopéia, personificação ou animismo
É a atribuição de qualidades e sentimentos humanos a seres irracionais e inanimados.
Ex.: "A lua, (...) Pedia a cada estrela fria / Um brilho de aluguel..." (João Bosco / Aldir Blanc)
Bibliografia
BECHARA, E., 2000, Moderna Gramática Portuguesa, 37 ed., Editora Lucerna, Rio de Janeiro, RJ
ROCHA LIMA, C. H., 1999, Gramática Normativa da Língua Portuguesa, 37 ed., José Olympio Editora, Rio de Janeiro, RJ
TUFANO, D., 1979, Estudos de Língua e Literatura, Vol. 2, 1 ed., Editora Moderna, São Paulo, SP